quarta-feira, 31 de outubro de 2012

TER OU NÃO TER NAMORADO

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria. Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. -Arthur da Távola-

domingo, 28 de outubro de 2012

CRONICA DE UM AMOR FORA DAS PISTAS

Quando disseste para que eu pisasse no freio senão iria te atropelar ou achar o muro, mais uma vez percebi que as vezes ultrapasso os limites, e que tu tentas me proteger mostrando a "bandeira amarela". Quando eu entrei, por minha vontade, nessa "corrida", já sabia que não seria uma disputa, pois já havia uma "pole position" definida. Um piloto "hours concours". Já havia uma "bandeira azul" dando sinal da minha condição. E exercer o comando de teu coração seria uma posição que eu jamais conquistaria. Pista molhada, com obstáculos, um piloto com a vitória definida há muito tempo...enfim eu teria todos os motivos do mundo para parar de correr, poderia me recolher ao meu "box", poderia apenas ser um espectadora, ou nem isso, mas percebi que não quero abandonar as pistas, não agora, pelo menos. Mesmo que a "bandeira vermelha/amarela" esteja sempre hasteada. Acho que sou como um "Rubinho Barrichello", que não ganha nunca, não tem um carro competitivo, mas é apaixonado pelo que faz, é teimoso, não quer saber de parar, nem pensa em desistir, mesmo que as vezes nem complete todo o percurso. Mas ele está lá, nas fileiras de trás, firme! Porém, chegará o dia que terei que parar, recolher-me ao box definitivamente. Chegará o dia que aparecerá a "bandeira preta" e logo será substituída pela "bandeira quadriculada". E nesse dia, espero, que eu possa ser para ti um "Ayrton Senna", que já não corre mais, mas que estará sempre em tua lembrança, e por que não, em teu coração! E tu sempre serás "meu Grande Prêmio", que mesmo não conquistado, me trouxe as mais belas emoções, soprou os ventos mais acalentados, mostrou-me os caminhos mais intensos que eu poderia percorrer! Espero que possamos ainda desfrutar de muitas emoções ao longo das pistas que ainda percorreremos, juntos ou não!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

REMAR!

Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa do jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar. Caio Fernando de Abreu

SIMPLES ASSIM

E aí, tu ligas pra casa daquela pessoa que sempre "quebrava os galhos" quando precisava fazer uma instalação elétrica, ver uma TV que não estava funcionando bem, trocar uns cabos e coisas desse tipo...aquela pessoa que tu conhecias há anos e quando precisava desse tipo de serviço, já dizia -chama o Fulano! E do outro lado alguém atende e diz- mas tu não sabes? Fulano morreu! Putz...baita cara, trabalhador, fazia um belo serviço, sempre dava um jeito de vir no horário que tu precisavas...e o cara morre! E morreu trabalhando. Não deu tempo de avisar ninguém. Não deu tempo de chegar em casa e descansar de mais um dia. Não esperou o final de semana, não esperou até o Natal...não esperou virar o ano! Morreu! Não era da família, não fazia parte da roda de amigos, não era íntimo, mas era o Fulano! Quem disse que ele ia morrer assim, de uma hora para outra, sem avisar seus clientes, seus parentes, seus amigos? É assim que é então? Hoje estamos aqui e amanhã podemos não estar? Simples assim? Parece bobagem, mas quando acontece perto da gente, dá um susto tão grande, dá uma sacudida nas nossas expectativas, nos nossos planos a longo prazo! Não existe previsão. Não existe hora determinada, pelo menos não que nós saibamos! Existe uma vida que pode deixar de existir a qualquer momento, estando tu alegre ou triste, dormindo ou acordado, trabalhando ou descansando, rindo ou chorando! É aquela história de que "pra morrer basta estar vivo!" Então, enquanto vivo, viva e faça de tudo para ser feliz!